Sexta, 14 de Dezembro de 2012

Entrevista do Senhor Presidente, Dr. Alberto Machado à Revista País Positivo - suplemento do Semanário Sol

Com uma população superior à das geridas pela maioria dos municípios portugueses e com um orçamento reduzido em 25 por cento nos últimos três anos, o que representa menos 400 mil euros face a 2009, a Junta de Freguesia de Paranhos tem conseguido assumir-se como um case study em matéria de gestão autárquica e de investimento em ação social.
De acordo com o presidente Alberto Machado, um jovem autarca que combina paixão e razão no exercício de funções para as quais se revela bem talhado, foi o rigoroso controlo das despesas fixas da autarquia que permitiu a libertação de verbas destinadas ao investimento em projetos que visam
a melhoria da qualidade de vida e a superação das carências dos cidadãos que o elegeram. A tal ponto que, mesmo com um investimento significativo em projetos inovadores em setores como o da inovação social e do incentivo ao empreendedorismo, a Junta de Freguesia de Paranhos tem terminado os últimos anos de exercício de Alberto Machado, com um Supervit financeiro. 
   
Um dos projetos mais inovadores de combate ao desemprego jovem foi concebido e implementado na freguesia de Paranhos, servindo igualmente a população não residente naquele território. Falamos do UP!, um conceito inovador que combina a oferta de espaços para a incubação de ideias e transformação das mesmas em negócios e a prestação de serviços a custos muito reduzidos. E são já vários os casos bem sucedidos ao longo dos três anos de implementação do projeto, traduzidos em sucessos evidenciados por jovens empreendedores em vários setores de atividade.
A País Positivo foi a Paranhos conhecer o projeto e as razões que sustentam a satisfação evidenciada pela maior parte dos eleitores da freguesia dirigida por Alberto Machado.
A Junta de Freguesia de Paranhos acaba de lançar um projeto arrojado num contexto de crise. Como surgiu o Hurry UP!, um concurso de ideias de inovação social?
Paranhos um equipamento tutelado pela junta de freguesia chamado HUB Porto. Tratava-se de um franchising de uma rede internacional que possui equipamentos deste tipo em 30 cidades do mundo. Nós, executivo da Junta de Freguesia de Paranhos, numa atitudebde certa forma visionária, entendemos
que faria todo o sentido, numa ótica de combate ao desemprego jovem, termos um equipamento que promovesse o empreendedorismo e a inovação social. Por isso aderimos a esse franchising, que seria válido por três anos. Entretanto,optámos por não o renovar, essencialmente
porque a estrutura detentora do franchising a nível internacional nos exigia um aval financeiro  que uma junta de freguesia não poderia assumir. De qualquer forma, já
possuíamos o know how, tínhamos o equipa mento e basicamente, o que fizemos foi alterar o nome do espaço, mantendo-
-o a funcionar adaptando-o à nova realidade. Deixou de se chamar HUB Porto, passando a designar-se Unidade Empresarial de Paranhos, com a sigla UP!. Desta mudança, operada no mês
passado, surgiu a ideia de projetarmoso UP! com um concurso, surgindo então o Hurry UP!, um concurso de ideias que
resultará em projetos empreendedores na área da inovação social, que lançámos aos jovens até 35 anos. O Projeto vencedor poderá ser incubado no nosso espaço durante um ano a custo zero.
Em que consiste concretamente o equipamento e que tipo de serviços presta?
Trata-se de um espaço constituído por um conjunto de salas para formação, uma sala para coworking, uma sala de eventos, temos escritórios individuais e fazemos incubação de empresas.
Em termos de filosofia, disponibilizamos não só às pessoas empreendedoras de Paranhos mas a toda a população em geral espaços de trabalho a custos reduzidos,com a possibilidade de cada um poder alugar o espaço à medida das suas necessidades. Os contratos são mensais e celebrados em pacotes de horas, sendo que, por exemplo, o aluguer durante todo o mês, das 9 às 19 horas, custa 150 euros. O que já inclui o espaço físico, internet, água, luz, telefone,
o funcionário e serviços de apoio à incubação…
 Como avalia a adesão ao projeto?
O dado mais representativo que poderia facultar é que já passaram pelo espaço 130 pessoas empreendedoras. Claro que nem todas foram bem sucedidas mas uma grande maioria conseguiu fazer vingar os seus projetos e, alguns, até já criaram o seu próprio espaço. Neste momento, temos 90 empreendedores ativos com empresas nos mais variados ramos e setores. Uns optaram por escritório individual, o que lhes concede outro tipo de liberdade, mas a esmagadora maioria funciona em co-working. Temos muitas empresas a dar formação e o espaço destinado a eventos também tido uma taxa de ocupação muito significativa, com um conjunto de atividades multifacetadas,que vão desde palestras a conferências,passando por sessões de dança ou ballet. Entre os casos mais mediáticos que podemos referenciar, destacaria o de um escritor que já redigiu várias obras no nosso espaço, temos uma empresa que importa e exporta produtos no mercado do Báltico, temos uma empresa de mergulho, uma academia de dança, uma escola de línguas…
Sendo o projeto destinado a combater mo desemprego jovem, exclui pessoas de faixas etárias mais avançadas?
A esmagadora maioria dos nossos clientes pertence a uma faixa etária mais jovem, muitos até provenientes das universidades, que têm uma ideia, não têm recursos para implementarem nos escritórios da cidade e que podem fazê-lo ali a um custo reduzidíssimo.
Mas também temos empreendedores pertencentes a uma faixa
etária mais avançada. Nalguns casos por perda de emprego, noutros por mera intenção de mudar ou incrementar a qualidade de vida, optam, numa idade mais avançada, por procurar o sucesso noutra área.

Existe algum tipo de ligação com o meio académico?
A ligação com o meio académico faz-se através de um conjunto de protocolos que celebrámos com a Universidade do Porto e com as universidades privadas sediadas na freguesia de Paranhos.
A título de exemplo, a Faculdade de Economia da UP faz-nos o plano de negócios para as nossas empresas. A Universidade do Porto também tem uma incubadora de empresas mas de base mais tecnológica, ao passo que a nossa é de base social, o que de certo modo faz com que haja uma complementaridade da oferta.
Que motivos alicerçam a priorização política da autarquia de Paranhos na ação social?
Nós estamos a apostar muito fortemente na ação social porque sentimos verdadeiramente essa necessidade no
terreno. Quando, em 2009, nos candidatámos ao terceiro mandato na junta de freguesia, antevendo a deterioração do contexto social e económico, elegemos a intervenção em ação social como prioridade. Nesse sentido, temos promovido um conjunto de projetos cujo objetivo consiste no apoio à população até ao limite das capacidades e das competências de uma junta de freguesia. Temos um grande território, densamente povoado para gerir e queremos evitar que fique  alguém para trás nesta caminhada que o nosso país está a fazer contra a crise financeira em que nos vimos envolvidos nos últimos anos. Nesse sentido, apostámos muito forte na reorganização da Comissão Social de Freguesia, um órgão coordenado pela junta de freguesia, que abarca todas as instituições que prestam serviços na área social. Felizmente, temos um meio associativo muito forte, muitas
IPSS, muitos centros sociais ligados a paróquias e outras associações de índole social e estamos todos a trabalhar
em conjunto nesta parceria.

Que tipo de programas e projetos têm resultado dessas parcerias celebradas com as organizações da sociedade civil?
Temos um programa alimentar desenvolvido
em duas vertentes: uma na área dos cabazes, em que, através da loja social da junta de freguesia, apoiamos os agregados familiares; e apoiamos também financeiramente as IPSS para que estas possam reforçar os cabazes que vêm do Banco Alimentar. Ainda nesta área, estamos também a apoiar financeiramente um conjunto de instituições da freguesia que aderiram ao programa da Segurança Social dos refeitórios sociais, para que possam ir um pouco mais além e colmatar as
listas de espera. A nossa loja social tem outra componente relacionada com a doação de bens, que depois distribuímos
pelas famílias carenciadas.

Pelo segundo ano consecutivo fizemos uma campanha de recolha de manuais escolares, que resultou na entrega de mais de 600 manuais a perto de 90 agregados familiares da freguesia.
Houve ainda um conjunto de pessoas que nos deu manuais que já não estão em circulação; no ano passado, enviámos
os livros para Moçambique e este ano optámos por vender o papel ao quilo, tendo a receita revertido para a
aquisição de mais alimentos para distribuirmos.
Temos ainda um Programa de Emergência Social, aprovado em julho último, ao abrigo do qual já apoiámos mais de 20 agregados em risco de rutura eminente, ou seja, famílias que
vão gerindo o seu orçamento muito no limite mas que, por vezes, deparadas com despesas extra, correm o risco de desiquilibrar a sua situação financeira nos meses seguintes. Assinaremos ainda este mês, com uma instituição da freguesia, o Movimento Comunidades de Vizinhança, um protocolo que visa apoiar os idosos carenciados que estejam
isolados, através de um sistema de teleassistência.